2022: o ano para deixar de ser normal.

Chega esta altura do ano, a esta semana em particular, e somos inundados por textos, imagens e entrevistas motivacionais-wannabe sobre "como fazer do próximo ano o melhor de sempre", que "é agora que a nossa vida vai mudar e tornar-se aquilo que queremos". Até previsões baseadas nas estrelas ou nas cartas nos garantem que isto ou aquilo vai acontecer.

Quão cansados estamos destas mensagens? Se for como eu, muito! Parece que trazem a mensagem escondida de que o nosso futuro está determinado e que nos vai ser apresentado e presenteado, nos vai ser colocado à frente pronto para ser aproveitado. A única coisa que temos de fazer é querer e esperar que aconteça.

Livros como "O Segredo" parecem partilhar essa mensagem, de que basta acreditar muito para que as coisas aconteçam, que se a mente for forte o suficiente, o Mundo vai mudar - como se o Mundo não tivesse mais nada que fazer do que estar à nossa espera para avançar.

Não gosto da ideia e recuso-me a aceitá-la, por uma razão muito simples: é uma visão passiva, derrotista e resignada.

Acontece que a verdadeira mensagem do livro (deste e de outros semelhantes) é exactamente o oposto: é um impulso à acção e ao inconformismo face ao passado para mudar e influenciar activamente o futuro. Que, se nos focarmos num objectivo, ele tornar-se-á real mais rápida e facilmente. E a cereja no topo do bolo é que existe uma base neurofisiológica para isto!

O nosso cérebro tem um sistema de filtro que funciona 24/7 de forma inconsciente, extremamente eficaz a fazer a triagem dos estímulos - sons, luzes, cheiros, ... - que nos rodeiam de modo a que só prestemos atenção às informações realmente importantes. Sem saber, de certeza que já sentiu a sua acção:

Alguma vez esteve, distraído, numa sala com o barulho de fundo de outras pessoas à conversa e que, no meio dessa distração e barulho, conseguiu identificar alguém a dizer o seu nome, trazendo-o à realidade? É o efeito deste filtro, chamado sistema de activação reticular (SAR).

Este sistema só deixa "passar" para a nossa consciência estímulos que merecem a nossa atenção. Ouvir o nosso nome é um deles, está programado nas nossas "definições-padrão". Mas podemos fazer o upgrade, ajustá-las e personalizá-las de forma consciente.

Alguma vez lhe aconteceu ler um artigo sobre um tema que lhe suscitou interesse - como por exemplo o burnout ou a vitamina D - e, a partir desse momento, lhe parecer que "toda a gente" fala de burnout ou que vê notícias sobre a vitamina D "todos os dias"? Ou após começar a estudar a hipótese de comprar determinado carro, passou a ver exactamente esse carro em todo o lado, algo que nunca tinha notado? É o mesmo sistema a funcionar.

Para além das definições-padrão, o SAR permite que cheguem à nossa consciência dados e informações presentes à nossa volta sobre o que nos interessa e ao que dedicamos tempo, energia e foco: ideias, objectivos, oportunidades.

Quando pomos a nossa energia, a nossa motivação e o nosso foco num objectivo, passamos a ver mais oportunidades para o atingir, novos caminhos para lá chegar e melhores estratégias para o tornar realidade, o que, por sua vez, faz com que se possa tornar realidade. Isto não porque "estava destinado!" mas sim pelo resultado da intenção aliada à acção.

Aplicando a neurociência, a mensagem do "Segredo" seria esta: se colocar o seu foco, a sua atenção e a sua energia num objectivo, o SAR irá com que reconheça mais ferramentas, caminhos e oportunidades, pondo-o mais perto de o conseguir.

 

O momento de projectarmos e definirmos metas para 2022 é a altura ideal para fazer o balanço de 2021.

Não de uma forma aritmética, de simplesmente fazer as contas às vitórias e derrotas, mas sim de uma forma estratégica e inteligente, tendo por base as palavras de Einstein, "Insanidade é fazer a mesma coisa e esperar resultados diferentes". Não faz sentido reciclar objectivos não-atingidos de 2021 para 2022 sem parar para encontrar a fazer para não ter conseguido porque, se a estratégia não mudar, a probabilidade do resultado ser diferente não só é baixa como está dependente da sorte e do acaso. E isto é muito semelhante a ser insano.

Tanto na clínica como fora dela, temos o privilégio de todos os anos ajudar centenas de pessoas a criar estratégias de otimização de saúde e performance. Ao longo do tempo, fomo-nos apercebendo de uma característica comum a quem supera as barreiras e atingir os seus objectivos, por mais ambiciosos e "impossíveis" que sejam: terem um porquê para o atingir.

A força da razão que nos move, desse porquê, está directamente relacionada com a probabilidade de sucesso. É essa certeza de que é possível conseguir, de que se consegue de uma maneira ou de outra, "dê por onde der", que o fará ultrapassar todas as barreiras, que consiga superar os desafios e que lhe trará o sucesso, mesmo que seja o único a acreditar. Até o seu filtro SAR o ajudará a conseguir!

Há inúmeros exemplos de pessoas espalhadas pelo mundo que acreditaram no impossível e fizeram acontecer:

  • Ramon Arroyo terminou um Ironman, mesmo estando diagnosticado com esclerose múltipla (tendo tido um surto no meio da preparação)

  • Elon Musk mostrou que é possível reutilizar foguetões ao mesmo tempo que se transforma a indústria automóvel

  • Manoel de Oliveira foi o exemplo de que a idade é um número, ao dirigir filmes aos 100 anos.

Porque não ser a próxima pessoa a superar os seus limites? É possível atingir o próximo nível, em particular na área da saúde.

Acima de tudo, o que os últimos 2 anos nos mostraram é que, independentemente de todas as estratégias terapêuticas que possam ser usadas, o nosso nível de optimização da saúde é a melhor garantia contra tudo e contra todos. É certo que quanto mais saudáveis, fortes e resistentes formos, melhor nos vamos sair de qualquer situação em que nos vejamos metidos. Isto não se aplica apenas à situação pandémica em si mas também a tudo o que mudou e à capacidade que continuamos a ter de ter para nos adaptarmos, ao que se soma a ambição e a vontade de sermos continuamente melhores.


Deixo-lhe um desafio para 2022: não se contente ou aceite ser ou estar "normal".

Ser ou estar "normal" não significa que seja ou esteja ótimo ou tão bom como poderia ser. No contexto de saúde, significa apenas que "é normal as pessoas da sua idade ou na sua situação sentirem-se da mesma forma", "os seus resultados estão dentro da média" ou "não se preocupe com isso para já, se ficar pior logo se vê". Desde quando é que aceitámos que é normal dormir mal, estar cansado, ter peso a mais, não se conseguir concentrar e não ter energia? Não tem de ser assim! É habitual? Sim. A maioria das pessoas até se pode sentir assim? Sim. Mas isso não significa que não seja possível ser melhor!

Não sei quanto a si mas, para mim, a opção de ter um nível de saúde e performance "anormalmente" bom, melhor do que a média e acima do expectável parece-me claramente melhor opção!

Sinto que vivo numa realidade paralela porque quem nos procura quer mais: mais cuidado, mais saúde e mais performance. Temos a honra e o privilégio de nos escolherem para sermos seus parceiros, co-pilotos e orientadores neste caminho. Estaremos sempre prontos a ajudar quem quiser mais e fazer com que o corpo nunca limite o que pode atingir.

Acho que é a altura de assumirmos que estar ou ser "normal" não é suficiente se queremos viver da melhor forma - independentemente do que isso signifique para cada um. Desejo que em 2022 não seja normal, mas muito para lá disso!

 
Anterior
Anterior

Saiba como a vitamina D pode ajudar na autoimunidade.

Próximo
Próximo

5 presentes de última hora