Os primeiros passos para deixar de ser obeso - parte 3
O tecido adiposo não é composto apenas por células de gordura. Não é um armazém passivo de gordura. É composto por diferentes células, activas e que reagem ao que vai acontecendo no organismo (como a vasta maioria das células, aliás). A par dos adipócitos (as células de gordura propriamente ditas), o maior componente do tecido adiposo são células imunitárias, como os macrófagos ou os mastócitos.
A obesidade não é apenas uma condição caracterizada por acumulação excessiva de gordura. É reconhecidamente também uma condição inflamatória, o que significa que há um papel activo das células imunitárias.
Não deixa de ser relativamente óbvio, tendo em conta que há tantas dessas células na gordura…
Num aparente exemplo da clássica dúvida do ovo e da galinha, não é claro se o estado inflamatório é só consequência ou também causa inicial da obesidade. O que se sabe é que
estas células produzem e libertam mediadores inflamatórios, como a IL6, IL1 e TNFa, tanto localmente, para o tecido adiposo, como para a circulação sanguínea, tendo um efeito global sistémico.
esses mesmos mediadores aumentam o tamanho, número e até actividade dessas células na gordura, promovendo o seu aumento.
quando eles diminuem, também as células imunitárias diminuem.
Perguntará, e bem, “como é que a gordura consegue distinguir se essas foram produzidas na gordura ou se vieram doutro lado do organismo?”.
Não sabe!
Independentemente de serem mediadores originários na gordura ou noutro lado qualquer, não ter o mesmo efeito nessas células! Depois de entrarem em circulação, as mesmas partículas vão ter o mesmo efeito. É o mesmo que acontece com a glicose, por exemplo: quer esteja no sangue vinda directamente da absorção intestinal quer tenha sido produzida no fígado, ela vai ser usada para produzir energia.
Então, se:
As células imunitárias constituem mais de 40% de todas as células existentes na gordura,
São afectadas pela quantidade de mediadores existentes em circulaçãoTanto o seu tamanho como mesmo o seu número diminuem quando reduzimos a concentração desses mesmos mediadores
O passo lógico não será reduzir a inflamação existente no organismo? Parece “elementar, meu caro Watson”.
Quando se reduz a inflamação, o peso baixa rápida, significativa e drasticamente. Grande parte é causado por perda de água associado a esse processo, sem dúvida. Mas não é razão para diminuir a importância dessa perda.
Aliás, a razão para a perda é que é a parte importante!
A redução da quantidade de água significa que deixou de existir o estímulo para a acumular, sendo que um dos estímulos é a existência de inflamação sistémica, a mesma que aumenta o número e tamanho das células imunitárias na gordura. Há uma relação bastante directa aumento dos níveis inflamatórios e o aumento da retenção de líquidos. Quando a inflamação aumenta, retemos água. Quando diminui, eliminamos água.
O primeiro objectivo de um plano para a obesidade deve ser controlar e diminuir os níveis inflamatórios do organismo. Não só terá um impacto marcado no peso efectivo perdido como há um impacto mais reduzido no equilíbrio endócrino, neurológico e mental. Podemos assim começar o plano com perda de peso, reforçando a motivação, sem perturbar esse equilíbrio instável.
A via mais rápida para conseguir esse passo não está na gordura mas noutro local do nosso corpo: o intestino.
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